terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tiapé Suruí fala sobre a divisão do estado do Pará



Tiapé Suruí
Foto: Alda Costa
 






Tem que pensar muito na hora de votar. No Brasil, todo mundo é obrigado. Em outros lugares não é assim. Se não fosse obrigado, era diferente. As pessoas nem pensam na hora de votar. Fica um monte de gente discutindo a divisão do estado, como se fosse um jogo de futebol.

A gente pergunta se é contra ou a favor, aí dizem sim ou não. Então, a gente pergunta por quê? Mas ninguém sabe explicar.
Algumas pessoas nem conhecem o estado, são muito diferentes e dizem que são contra. Outras dizem que são a favor, mas nem são daqui, são de outros estados.

Eu ainda não tenho uma posição definida sobre a divisão do estado do Pará. Tô analisando.


Por um lado, eu sou a favor, porque nós íamos ficar mais próximos do governador, da capital. Isso seria bom. Por outro lado, não sei se seria bom pros indígenas, porque quem está interessado na divisão do estado são muitos fazendeiros e aqueles políticos que são mais contra os índios.

Como sempre acontece, ninguém perguntou nada pra gente não. Eu li o texto do professor Bessa Freire e ele fala disso. Parece que nunca se importam com os indígenas.

TAPAJÓS E CARAJÁS: FURTO, FURTEI, FURTAREI
José Ribamar Bessa Freire
09/10/2011 - Diário do Amazonas





quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tiapé Suruí fala sobre Belo Monte

Para nós, não tem nada de belo, não! É mal monte, feio monte...

Aricassú, Tiapé e Umassú Suruí

Não considero importante a construção de Belo Monte. Se realmente construíram a barragem, vão dar um jeito de acabar com os indígenas, os ribeirinhos. Vão destruir a floresta e nesta região a floresta é mais conservada do que onde eu moro, que fica perto de Marabá. Também vão acabar com muitos peixes, por causa do rio e da caça, porque a floresta vai se inundada.

Em 2010, na Terra Indígena Sororó, onde moro, não foi inundado, mas aconteceu uma grande queimada. Nós sofremos muito, porque diminuiu a caça, mas também deu problema na agricultura. Agora, em 2011, nós não conseguimos produzir nada.

Eu acredito que se construírem a barragem, os povos indígenas de lá e os ribeirinhos, o s pequenos agricultores, vai ser difícil pra eles fazerem roça e a roça pegar.

Quando inundar tudo, eles vão ter que caçar algum meio pra viver. Então, vai ter indígena na cidade. Vão ter que trabalhar pros fazendeiros. Vivendo na cidade, vai ser difícil preservar a cultura, manter viva para futuras gerações. Os costumes vão mudar. Eles não vão comer mais caça, vai ser só comida industrializada, não vão mais comer comida natural. E como é que os mais velhos vão viver na cidade?


Terra Indígena Kwatinemu - será afetada por Bele Monte
Foto: Ivânia Neves
Eles pegaram de surpresa os índios. Não perguntaram se eles queiram. Agora, os povos de lá estão tentando se defender. Em outubro teve um protesto grande e muitos povos foram tentar impedir a construção. Wirapiaí Suruí e Muruó Suruí, dois Aikewára que estudam em Marabá foram pra lá também.

Tiapé Suruí