sexta-feira, 11 de junho de 2010

Hibridizações Aikewára: a dança das identidades nas novas casas de alvenaria

Hybridizations Aikewára: the dance of identities in the new brick houses
Hybridations Aikewára: la danse des identités dans les maisons de briques de nouvelles

- Por que vocês construíram a escola de alvenaria e não da forma tradicional como fazem suas casas?
- Ivânia, quem gosta de casa de palha é antropólogo e linguista. Estas casas não duram mais que seis meses e a gente tem sempre que ficar ajeitando- respondeu a minha amiga Mureyru Suruí. (2003)
- Why did you built the school of masonry and not the traditional way as they make their homes?
- Ivania, who likes to straw house is an anthropologist and linguist. These houses do not last more than six months and we always have to keep adjusting, "replied my friend Mureyru Suruí. (2003)

"As novas casas são legais, mas a minha casa mesmo é a casa antiga. Eu vou dormir na casa nova, mas eu vou passar o dia na casa antiga!" - Umassú Suruí-Aikewára
"The new houses are good, but my house is the same old house. I'll sleep in the new house, but I'll spend the day at the old house!" - Umassú Suruí-Aikewára

"As casas novas são boas e não vamos ter que construir logo outras. E vocês ficam pensando que é quente, mas não é não!" - Tiapé Suruí-Aikewára
"New houses are good and we will not have to build once more. And you are thinking it is hot, but it is not!"- Tiapé Suruí-AikewáraEm abril de 2010



Talvez a crise da forma de pensar o patrimônio se manifeste de forma mais aguda em sua valorização estética e filosófica. O critério fundamental é o da autenticidade, conforme proclamam os folhetos que falam sobre os costumes folclóricos, os guias turísticos quando exaltam o artesanato e as festas “autóctones”, os cartazes das lojas que garantem a venda de “genuína arte popular”. Mas o mais importante é que tal critério seja empregado na bibliografia sobre patrimônio para demarcar o universo de bens e práticas que merece ser considerado pelos cientistas sociais. É como se não pudesse se levar em conta que a atual circulação e consumo dos bens simbólicos limitou as condições de produção que em outro tempo tornaram possível o mito da originalidade, tanto nas artes das elites e da popular quanto no patrimônio cultural tradicional.
Nestor Canclini

Antes da demarcação de suas terras, os Aikewára costumavam construir suas aldeias por toda extenção da região da Serra das Andorinhas, às proximidades do Rio Araguaia. Depois da demarcação, esta prática social se circunscreveu apenas á Terra Indígena Sororó.
Prior to the demarcation of their lands, Aikewára used to build their villages in the Serra dasAndorinahs, the vicinity of the Rio Araguaia. After the demarcation, this social practice merely confined to the Indigenous Land Sororo.
Foto: Monica Cruvinel
Casas tradicionais Aikewára / Traditional houses Aikewára

Foto: Monica Cruvinel
Casa tradicional Aikewára Geração I / Traditional house Aikewára Generation I

Foto: Monica Cruvinel
Casa Tradicional Aikewára - Geração II / Traditional house Aikewára Generation II

Recentemente, grande parte dos 305 índios se tranferiu para a aldeia nova, a primeira com casas de alvenaria.
Recently, much of the 305 Indians he moved to the new village, with brick houses

Foto: Gilvandro Xavier
Índios Aikewára durante a realização de uma dança liderada por Arikassu, ao fundo, uma das casas novas de alvenaria. / Indians Aikewára while performing a dance led by Arikassu in the background of a new brick homes.

Em março de 2010, na Terra Indígena Sororó dos índios Suruí-Aikewára, o Governo Federal entregou um conjunto de 30 casas populares feitas de alvenaria.
In March 2010, Indian Land Indian Sororo, the Federal Government delivered a set of 30 housing made of masonry.
Foto: Gilvandro Xavier
Panorâmica da aldeia nova / Overview of the new village

Esta nova arquitetura contrasta com as casas tradicionais desta sociedade. Podemos ver nesta fotografia como os Aikewára se apropriaram destas novas casas e construíram em anexo um compartimento de palha e madeira. Estas apropriações traduzem as fronteiras culturais em que eles vivem. Se por um lado aceitam a interferência do material e das formas ocidentais, por outro, incorporam elementos de seu patrimônio arquitetônico tradicional.
This new architecture contrasts with the traditional houses of this society. We can see this photo as Aikewára appropriated these new homes and built a compartment attached straw and wood. These appropriations reflect the cultural boundaries in which they live. If on one hand accept the interference of Western forms of material and, second, incorporate elements of their traditional architectural heritage.


Foto: Monica Cruvinel
Hibridizações Aikewára 
Casa tradicional - GeraçãoIII / Traditional house Aikewára Generation III

A disposição destas casas criou um espaço central de encontros sociais. Nesta nova aldeia, eles fizeram questão de construir uma casona com palha de babaçu e madeira, materiais das suas casas tradicionais.
The provision of these houses has created a central space for social gatherings. In this new village, they were keen to build a Big House with straw babassu and wood materials from their traditional homes.

Foto: Gilvandro Xavier
Casona, no centro da aldeia nova / Big House in the center of the new village

Foto: Gilvandro Xavier
Confecção da rede tradicional Aikewára na nova Casona / Manufacture of the traditional hammock Aikewára - New Big House

Na última aldeia que eles  próprios construiram, onde ainda mora uma parte da população, há uma Casona feita de alvenaria.
At the last village that they themselves built, where he still lives part of the population, there is a Big House made of masonry.

Foto: Gilvandro Xavier
Casona antiga, durante a realização de oficna do projeto Crianças Suruí-Aikewára: entre a tradição e as novas tecnologias na escola. / Old Big house, during the execution of the project Children Suruí-Aikewára: between tradition and new technologies.

Hoje, a maioria das sociedades indígenas vive entre as fronteiras de sua tradição e a forte influência das culturas ocidentais, que chegam pelo rádio, pelas revistas, pela televisão, pela internet, pela presença dos “kamará”, pelas viagens que realizam às cidades.

Só não podemos nos esquecer que, quando possível, são eles que fazem a seleção dos espaços ocidentais por onde querem transitar. Também não devemos desconsiderar que estas sociedades encontram suas próprias estratégias de negociação com a cultura do outro, muitas vezes se apropriando de objetos culturais estrangeiros e reatualizando, a partir deles, sua própria tradição.

A construção destas novas casas, com seus compartimentos tradicionais anexados, a presença de uma Casona de palha são bons exemplos desta apropriação. A história sempre continua, ainda que muitos de nós, “kamará” imaginem que os índios ficaram presos no tempo que antecedeu ao contato.

Today, most indigenous peoples living between the borders of their tradition and the strong influence of western cultures, which reach the radio, in magazines, on television, the Internet, by the presence of "kamara" for travel to the Indians themselves to perform cities.
we can not forget that, where possible, are they making the selection of areas where Westerners want to pass. We should also not ignore that these society find their own trading strategies with the culture of another, often appropriating foreign cultural objects and reviving, from them, their own tradition.
The construction of these new houses, with their traditional compartments attached, the presence of a Big House of straw are good examples of this appropriation. The story always continues, even though many of us, "kamara" imagine that the Indians were trapped in the time leading up to the contact.

Ivânia dos Santos Neves


4 comentários:

  1. minha amiga postou sobre esse bloguinho no twitter dela
    ke lindo esse projeto
    como surgiu? quem teve a idéia?
    que bom que vocês estão fazendo este trabalho legal
    espero sinceramente que vocês tenham RECONHECIMENTO.
    parabéns aos idealizadores

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  2. UM DIA... Gil contou-me a história deste projeto, e quando ele fala é de se encantar. E quando ele me apresentou o blog, é surpreendente como a leitura nos remete a essa sociedade.
    Foi e é apaixonante vir aqui e compartilhar um pouco sobre a vida dessa sociedade.
    DESEJO a todos que fazem desse projeto possível
    SUCESSO, ou melhor, AINDA MAIS SUCESSO.
    sempre virei aqui pra saber mais, sobre a cultura.
    AAHHH SEM ESQUECER QUE AS FOTOS ESTÃO LINDAAASS...

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  3. somus uma ekipe ki fala di forró
    mas num podiamus deixar di prestigiá um blog
    que mostra o social com tanta preciosidadi
    nossa amiga dissi qui iriamos gostar
    e ela num mentiu

    parabéns pra vcs
    equipe SUBMUNDO DO FORRÓ

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  4. Se apropriar é a maneira de se atualizar, apropria-se do que está aí, contudo, deve prevalecer a maneira de serelacionar com o mundo que os antigos possuiam, e aind possuem.

    Pra vender os produtos artesanais, comercializar, eles criam pra esse fim.

    Acho que no passado os motivos eram outros, e ainda se fabrica os produtos artesanais com esses motivos, mas para esses fins, e esses produtos criam vida e magia, criam história e energia, criam saber e conhecer. Os comercializados possuem um pouco disso, mas nãoé como algo que fabricamos para nosso próprio uso.

    Somos Kamarás, infelizmente. COntudo os Filhos da Terra estão renascendo dentro das grandes cidades para trazer de volta à natureza o que dela foi tirado, para renascer novos povos, com os valores da vida que os antigos possuiam em seus corações.


    Estamos aqui para reencantar o mundo colonizado, descolonizando nossos espaços íntimos, Místificando novamente a vida, o viver, encantando novamente o Ser, o tempo, as coisas ao nosso redor, Resgatando os povos enterrados no passado do esquecimento, desenterrando eles da memória em novas memórias que marcarão novo amanhecer para os Povos Verdadeiros, dissolvendo as cidades, retornando às aldeias, pois o Bom filho sempre torna a casa do pai.

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