terça-feira, 29 de junho de 2010

Oficina de fotografia - A foto através do olhar Aikewára.

Fotografar é registrar, guardar lembranças. Às vezes, ao ver uma foto, choramos, rimos, ficamos intrigados.O fotográfo usa a imaginação e intuição, mas para mim o verdadeiro fotográfo é aquele que usa o afeto, fotografa o que ama e quem ama.

A última oficina realizada este mês, do projeto “Crianças Suruí Aikewára: entre a tradição e as novas tecnologias na escola”, foi de fotografia. Nela crianças e jovens tiveram a oportunidade de registrar sua cultura pelo seu próprio olhar.

 Foto: Takwari Suruí

Os menores, entre sorrisos e mãos trêmulas, tiravam fotos dos mais velhos, amigos, família; os maiores elaboravam as fotos pedindo para outras crianças aikewára vestirem-se com o ararau, exibindo as pinturas corporais.

Eufóricos a cada apertar de botão, queriam mais. Repensavam outras coisas a fotografar, davam sugestões uns para os outros do que deveria ser captado pelas lentes da máquina fotográfica.

 Foto: Manerrassa Suruí

Houve foto da aldeia, do velho índio Arini, do açude onde se banham, do porcão do mato criado como bicho de estimação, dos araraus pendurados na parede.
A cada flash, um brilho acendia no olhar infantil de novidade.
As crianças amaram fotografar!
Não era mais o "kamará" que pedia "pose" mas, sim o próprio irmão, a prima, o amigo. Era o índio despindo sua alma para outro índio...

Quando montamos o foto varal feito na Casona, no centro da aldeia, a ansiedade era para receber a foto e mostrar aos pais. Procuravam fotos em que apareciam, reparavam como guerreiros as fotos que haviam batido.


Entre papel, cola, corda e fotos, a exposição de fotografia foi um revelar de possibilidades da inclusão dos Aikewára nas novas tecnologias.

Os Aikewára desta vez não ficaram como espectadores de seu registro, sua história. Tiveram autonomia para decidir o que guardar, para em outro momento complementar sua cultura de oralidade com o rememorar de uma fotografia.




sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sapurahai e a Rede Globo - Um "Estar Lá" bem diferente

Sapurahai and Globo TV - A "Be There" very different

No último dia 21 de junho, nós, a equipe de Belém e os índios Aikewára, que estamos realizando o projeto Crianças Suruí-Aikewára: entre a tradição e as novas tercnologias na escola, recebemos uma equipe da Rede Globo. Como era de se esperar, por todo o significado mítico da Globo, o clima era de ansiedade e de nervosismo.

On the last day June 21, the project Children Suruí-Aikewára: between tradition and new tercnologias the school received a team from Globo TV, the largest television network in Brazil. Of course, for all the mythic significance of the Globo TV, was the climate of anxiety and nervousness.


Índios Aikewára e Equipe da Rede Globo
Foo: Gilvandro Xavier 

Os Aikewára estavam felizes àquela manhã. Acordaram cedo, atenderam atentamente às nossas solicitações em relação ao que deveria ser apresentado, mas foram além...

The Aikewára were happy that morning. They woke up early, attended to our requests carefully about what should be presented, but were also ...


Caruji

Por iniciativa de Mairá, ainda na noite anterior, orquestrados por Arihêra, eles começaram a preparar o caruji, um mingau feito com macacheira, castanha do Pará e urucum.

The previous night, led by Arihera, they began to prepare the caruji a porridge made from cassava, nuts native and annatto.

Caruji


 No início da manhã, a aldeia estava preta e vermelha. Os cheiros do urucum e do jenipapo se espalhavam.Pela manhã, pouco antes da Rede Globo chegar, os últimos e fundamentais retoques. Eles finalizaram os desenhos corporais com a tinta vermelha de urucum...

In the early morning, the village was black and red. The smells of annatto and jenipapo spread.
By morning, just before the Globo TV reach the last and crucial touches, they finalized the design body with red dye annatto...


Pintura corporal Aikewára


Poliana, a jornalista que fazia a matéria, começou entrevistando algumas crianças que estavam se pintando de jenipapo, na parte de trás da casa de Maria Suruí. De repente, entra o Sapurahai...

Poliana, the journalist who made the field, began interviewing children the few who were painting jenipapo in the back of the house of Maria Suruí. Suddenly enter the Sapurahai ...


Sapurahai 1
Foto: Alda Costa

Puxados por Arikassú, que exibia um belíssimo ararau, entraram os homens dançando. Todos pintados de Sawara Pixum - Onça Preta. A força da cultura Aikewára se materializava em seus corpos pintados, no movimento que faziam com os maracás e principalmente, no movimento dos pés...
Quando os Aikewára entraram na praça central da aldeia, tudo parou.

Led by Arikassú, who displayed a beautiful ararau, entered the men dancing. All painted Sawara Pixum - Black Jaguar. The strength of culture Aikewára materialized in their bodies painted in the movement that made the maracas and foremost, the movement of the feet...
When Aikewára entered the central square of the village, everything stopped.


Tiapé Suruí pintado de Sawara Pixuna
Foto: Alda Costa
Nós e a equipe da Globo mudamos o rumo inicial da matéria.
O Sapurahai se impunha...

The initial direction of the field has changed. The Sapurahai happened ...

Sapurahai 03
Foto: Alda Costa

Primeiro os homens mais velhos, depois os mais novos, em seguida os meninos.
First older men, after the young, then boys.


Sapurahai 2
Foto: Alda Costa

Quando se formou o círculo com os homens, entraram as meninas pintadas e usando suas saias tradicionais.

 Sapurahai 3
Foto: Alda Costa

Provavelmente, na hora da edição, as imagens não vão aparecer na sequência em que aconteceram. O que é natural. Mas quem estava lá, nunca vai esquecer aquele momento.
Isso acontece quando o "Estar Lá" da antropologia, tão badalado na obra de Clifford Geertz, ganha um novo sentido. Quando o "Estar Lá" constitui a memória de alguns dos melhores momentos de nossas vidas!

Probably the time of publishing, the images will not appear in the sequence occurred. What is unnatural. But who was there will ever forget that moment.
This happens when the "Being There" anthropology, so fashionable in the work of Clifford Geertz, gains a new meaning. When the "Be There" is the memory of some of the best moments of our lives!

 

terça-feira, 22 de junho de 2010

Estamos conectados

Nós três, eu. Murué e Mairá acabamos de entrar definitivamente no mundo da internet.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Hibridizações Aikewára: a dança das identidades nas novas casas de alvenaria

Hybridizations Aikewára: the dance of identities in the new brick houses
Hybridations Aikewára: la danse des identités dans les maisons de briques de nouvelles

- Por que vocês construíram a escola de alvenaria e não da forma tradicional como fazem suas casas?
- Ivânia, quem gosta de casa de palha é antropólogo e linguista. Estas casas não duram mais que seis meses e a gente tem sempre que ficar ajeitando- respondeu a minha amiga Mureyru Suruí. (2003)
- Why did you built the school of masonry and not the traditional way as they make their homes?
- Ivania, who likes to straw house is an anthropologist and linguist. These houses do not last more than six months and we always have to keep adjusting, "replied my friend Mureyru Suruí. (2003)

"As novas casas são legais, mas a minha casa mesmo é a casa antiga. Eu vou dormir na casa nova, mas eu vou passar o dia na casa antiga!" - Umassú Suruí-Aikewára
"The new houses are good, but my house is the same old house. I'll sleep in the new house, but I'll spend the day at the old house!" - Umassú Suruí-Aikewára

"As casas novas são boas e não vamos ter que construir logo outras. E vocês ficam pensando que é quente, mas não é não!" - Tiapé Suruí-Aikewára
"New houses are good and we will not have to build once more. And you are thinking it is hot, but it is not!"- Tiapé Suruí-AikewáraEm abril de 2010



Talvez a crise da forma de pensar o patrimônio se manifeste de forma mais aguda em sua valorização estética e filosófica. O critério fundamental é o da autenticidade, conforme proclamam os folhetos que falam sobre os costumes folclóricos, os guias turísticos quando exaltam o artesanato e as festas “autóctones”, os cartazes das lojas que garantem a venda de “genuína arte popular”. Mas o mais importante é que tal critério seja empregado na bibliografia sobre patrimônio para demarcar o universo de bens e práticas que merece ser considerado pelos cientistas sociais. É como se não pudesse se levar em conta que a atual circulação e consumo dos bens simbólicos limitou as condições de produção que em outro tempo tornaram possível o mito da originalidade, tanto nas artes das elites e da popular quanto no patrimônio cultural tradicional.
Nestor Canclini

Antes da demarcação de suas terras, os Aikewára costumavam construir suas aldeias por toda extenção da região da Serra das Andorinhas, às proximidades do Rio Araguaia. Depois da demarcação, esta prática social se circunscreveu apenas á Terra Indígena Sororó.
Prior to the demarcation of their lands, Aikewára used to build their villages in the Serra dasAndorinahs, the vicinity of the Rio Araguaia. After the demarcation, this social practice merely confined to the Indigenous Land Sororo.
Foto: Monica Cruvinel
Casas tradicionais Aikewára / Traditional houses Aikewára

Foto: Monica Cruvinel
Casa tradicional Aikewára Geração I / Traditional house Aikewára Generation I

Foto: Monica Cruvinel
Casa Tradicional Aikewára - Geração II / Traditional house Aikewára Generation II

Recentemente, grande parte dos 305 índios se tranferiu para a aldeia nova, a primeira com casas de alvenaria.
Recently, much of the 305 Indians he moved to the new village, with brick houses

Foto: Gilvandro Xavier
Índios Aikewára durante a realização de uma dança liderada por Arikassu, ao fundo, uma das casas novas de alvenaria. / Indians Aikewára while performing a dance led by Arikassu in the background of a new brick homes.

Em março de 2010, na Terra Indígena Sororó dos índios Suruí-Aikewára, o Governo Federal entregou um conjunto de 30 casas populares feitas de alvenaria.
In March 2010, Indian Land Indian Sororo, the Federal Government delivered a set of 30 housing made of masonry.
Foto: Gilvandro Xavier
Panorâmica da aldeia nova / Overview of the new village

Esta nova arquitetura contrasta com as casas tradicionais desta sociedade. Podemos ver nesta fotografia como os Aikewára se apropriaram destas novas casas e construíram em anexo um compartimento de palha e madeira. Estas apropriações traduzem as fronteiras culturais em que eles vivem. Se por um lado aceitam a interferência do material e das formas ocidentais, por outro, incorporam elementos de seu patrimônio arquitetônico tradicional.
This new architecture contrasts with the traditional houses of this society. We can see this photo as Aikewára appropriated these new homes and built a compartment attached straw and wood. These appropriations reflect the cultural boundaries in which they live. If on one hand accept the interference of Western forms of material and, second, incorporate elements of their traditional architectural heritage.


Foto: Monica Cruvinel
Hibridizações Aikewára 
Casa tradicional - GeraçãoIII / Traditional house Aikewára Generation III

A disposição destas casas criou um espaço central de encontros sociais. Nesta nova aldeia, eles fizeram questão de construir uma casona com palha de babaçu e madeira, materiais das suas casas tradicionais.
The provision of these houses has created a central space for social gatherings. In this new village, they were keen to build a Big House with straw babassu and wood materials from their traditional homes.

Foto: Gilvandro Xavier
Casona, no centro da aldeia nova / Big House in the center of the new village

Foto: Gilvandro Xavier
Confecção da rede tradicional Aikewára na nova Casona / Manufacture of the traditional hammock Aikewára - New Big House

Na última aldeia que eles  próprios construiram, onde ainda mora uma parte da população, há uma Casona feita de alvenaria.
At the last village that they themselves built, where he still lives part of the population, there is a Big House made of masonry.

Foto: Gilvandro Xavier
Casona antiga, durante a realização de oficna do projeto Crianças Suruí-Aikewára: entre a tradição e as novas tecnologias na escola. / Old Big house, during the execution of the project Children Suruí-Aikewára: between tradition and new technologies.

Hoje, a maioria das sociedades indígenas vive entre as fronteiras de sua tradição e a forte influência das culturas ocidentais, que chegam pelo rádio, pelas revistas, pela televisão, pela internet, pela presença dos “kamará”, pelas viagens que realizam às cidades.

Só não podemos nos esquecer que, quando possível, são eles que fazem a seleção dos espaços ocidentais por onde querem transitar. Também não devemos desconsiderar que estas sociedades encontram suas próprias estratégias de negociação com a cultura do outro, muitas vezes se apropriando de objetos culturais estrangeiros e reatualizando, a partir deles, sua própria tradição.

A construção destas novas casas, com seus compartimentos tradicionais anexados, a presença de uma Casona de palha são bons exemplos desta apropriação. A história sempre continua, ainda que muitos de nós, “kamará” imaginem que os índios ficaram presos no tempo que antecedeu ao contato.

Today, most indigenous peoples living between the borders of their tradition and the strong influence of western cultures, which reach the radio, in magazines, on television, the Internet, by the presence of "kamara" for travel to the Indians themselves to perform cities.
we can not forget that, where possible, are they making the selection of areas where Westerners want to pass. We should also not ignore that these society find their own trading strategies with the culture of another, often appropriating foreign cultural objects and reviving, from them, their own tradition.
The construction of these new houses, with their traditional compartments attached, the presence of a Big House of straw are good examples of this appropriation. The story always continues, even though many of us, "kamara" imagine that the Indians were trapped in the time leading up to the contact.

Ivânia dos Santos Neves


terça-feira, 1 de junho de 2010

Projeto inaugura canal no youtube.

O projeto Crianças Suruí-Aikewára, inaugurou neste final de semana seu canal no youtube. Um trailer sobre os filmes que estão sendo produzidos foi postado. Segundo a professora Ivânia Neves, coordenadora do projeto, 4 filmes curta metragem serão produzidos sobre a cultura Aikewára. O objetivo deste material é servir de apóio didático à escola Suruí, além de valorizar a cultura dos índios. Os filmes do canal estão disponíveis na barra lateral do blog.



Veja mais

Canal Projeto Aikewára