domingo, 3 de abril de 2011

O nascimento de Zahy - Narrativa dos índios Tembé / Zahy’s birth – A Tembé indians narrative


          História de uma velha  índia Tembé ...
   A narrative by an old Tembé woman...
A noite estava clara. A tarde havia terminado calma e quieta e os Tembé se recolhiam para descansar. Em sua rede, cercada por filhos e netos, a índia mais velha da tribo começa a contar uma história. Uma história que há anos já havia sido contada pela sua avó.
 The night was clear. The day had finished calm and quietly and the Tembé were gathering to rest from the day. So the oldest woman from the tribe In her hammock, surrounded by her children and grandsons, begun to tell a story.
   “Há muito tempo, quando nossa nação ainda vivia nas margens de outro rio, nasceu Zahy, o filho do mais respeitado cacique que nosso povo tivera. Seu pai era um velho índio e, embora já tivesse dormido com muitas mulheres, nunca abandonara sua primeira esposa.
   “Long ago, when our nation still lived on the margins of another river, Zahy was born, he was the son of the most respected chief our tribe had had in years. Zahy’s father was already an old Indian and, although he had already slept with many women, he had never abandoned his first wife.
   O casal, para tristeza de toda nação Tembé, por muito tempo não conseguiu ter um filho. Quando seus pais já nem acreditavam ser possível este sonho, sob a bênção de todos os deuses, o indiozinho Zahy nasceu.
    The couple, for the sorrow of all Nation, had not succeeded in giving birth to a child for a long time. When Zahy’s parents were almost giving up to the dream of having a child something happened. His wife got pregnant and, with all the Gods’ blessing, Zahy, the little Tembé indian, was born.
   Mas aquele que nascera para dar continuidade à honra de seu pai, muito cedo quebrou seu destino e as leis de nossa tribo.
   But, the boy, who was born to follow the footsteps of his father, soon broke his destiny and our Tribe’s laws.
   Muito jovem, o  índio desejou uma mulher proibida, sua tia. Seu pai já havia determinado um outro destino para a irmã de sua mulher. E, mesmo sabendo disso, Zahy não controlou seu amor.
  When Zahy was still a young man, he desired a forbidden woman, who was his aunt. Even knowing that his father had already determined another destiny for her, Zahy was unable to control his love for her.
   Sempre que a noite chegava, o índio tateava no escuro para ir até a casa de sua tia, dormir com ela. Isso aconteceu noite após noite até que a jovem, sem saber quem se deitava com ela, pediu conselhos à índia mais velha da tribo.
   As soon the evening arrived, Zahy went groping through the darkness to his aunt’s house to stay for the night. This happened night after night, until the young woman, without knowing who she was sleeping with, asked for advice to the oldest woman in the Tribe.

   A índia mais velha lhe sugeriu uma armadilha: para saber quem a visitava, a tia de Zahy deveria lambuzar os dedos com jenipapo e aguardar a partida de Kwarahy (sol).
   The older Indian suggested a trap to catch the unknown visitor: to know who was vising her, she had to soak her fingers with the juice of the jenipapo fruit and wait for the parting of Kwarahy (the sun).
   Naquela noite, novamente, o jovem índio foi ao encontro de sua tia. Ela então afagou, várias vezes, o rosto do desconhecido, seguindo os conselhos da velha índia.
   Then, that night, Zahy again went to his aunt’s house. Following the old Indian’s advice, she touched the visitors’ face several times.    No dia seguinte, quando acordou, Zahy foi lavar seu rosto no rio. Viu as manchas do jenipapo deixadas pelos afagos de sua tia. Lavava insistentemente a face, mas as manchas não saiam...


   Next day, Zahy woke up and went to the river to wash his face. He saw the stains of the jenipapo juice left on his face by his aunt. He continuously washed his face but the satins didn’t go away...

   Quando voltou para a aldeia, os deuses, a índia mais velha e sua tia descobriram quem era o amante misterioso. Zahy foi por isso expulso da Terra. Transformado em Lua, foi condenado a viver eternamente no céu.
When Zahy returned to the Tribe, the Gods, the older Indian and his aunt found out who the secret lover was. Because of that, Zahy was expelled from Earth, transformed into Moon and condemned to live in heaven eternally.
   Olhem, pequenos! É por isso que ainda hoje, quando olhamos para Lua, vemos aquelas manchas. São as marcas deixadas na face de Zahy por sua tia, mulher que ele mais desejou quando era um jovem índio e de quem ele teve que se afastar para sempre.
   Listen, my children! That’s why even today, when we look up to the moon, we see the stains. Those are the stains left on Zahy’s face by his aunt, the woman desired by him when he was young and from whom he had to depart forever.

   Por isso há um período (a Lua Nova) em que não podemos ver Zahy no céu à noite. É quando ele está lavando o seu rosto. Depois a seu tempo, quando ele reaparece (da Lua Crescente à Cheia) podemos ver seu rosto inteiro, ainda com as manchas de jenipapo. É por isso que Zahy traz chuva quando aparece. A água que lavava seu rosto escorre do céu e faz chover...
  Because of that, there is a period (the new moon cycle) during which we cannot see Zahy in the sky at night. That’s because he is washing his face. After some days, Zahy shows up again (between the crescent and full moon cycles) and we can see his face entirely, with the jenipapo stains and all. And when it happens, Zahy brings the rain. The rain is the water he uses to wash his face….

(CORRÊA, Ivania et alli. O Céu dos Índios Tembé. Belém: Imprensa Oficial, 1999)Tradução: Sílvia Bahia

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